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Sexo, Mentiras e Feminismo por Peter Zohrab

O tradutor: Jacinto Castanho

CAPÍTULO 15: MANIFESTAÇÕES DO FEMINISMO

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Introdução

Este capítulo faz um breve apanhado de algumas formas históricas do feminismo. Não se pretende fazer um ataque ao feminismo, visto que este é um objectivo do resto do livro. Pretende-se em vez disso, fazer uma retrospectiva histórica da ideologia feminista e do movimento político, que ficou conhecido pelo Movimento de Libertação das Mulheres, ou Movimento de Mulheres. A única diferença entre estes dois termos é que a palavra “feminismo” é por vezes usada para se referir simplesmente a teoria ou ideologia, enquanto os termos “movimento de mulheres” ou “movimento de libertação das mulheres” referem

-se também a actividades políticas.

          O meu estudo não é completo nem actualizado. Particularmente, a Internet e o aumento dos movimentos internacionais de Homens/Pais estão a tomar um impacto que só os historiadores e escritores futuros podem descrever. O meu objectivo é apenas indicar os principais temas e exigências do feminismo nos últimos séculos para contextualizar os assuntos abordados nos capítulos anteriores e outros, que eu ou outros poderemos abordar no futuro.

Feminismo individualista/liberal

O feminismo individualista recebeu a sua primeira formalização com a obra “A Vindication of the Rights of Woman” de Wollstonecraft (1792). Isto foi durante a teoria social e política individualista no decorrer do século XVIII, que terminou com o segundo tratado do governo de John Locke, de acordo com o qual a lei suprema era o bem estar da população. Foi um passo modesto do princípio estabelecido de olhar para vários categorias da população, tais como as mulheres, e perguntar o que é que o sistema fez por elas. Do nosso actual ponto de vista, podemos perguntar quais as tendências das pessoas que decidiram quais as categorias de pessoas a investigar, mas isto é outra questão.

Charvet (Feminism, London: Dent, 1982) descreveu “individualismo” como “o entendimento de que a ordem política e social assenta na possessão de direitos pelos indivíduos ... o principal conteúdo dos direitos é geralmente entendido como consistindo na liberdade do indivíduo para fazer o que quer sem ser incomodado por outros” ( págs. 6-7).

Foi este tema que Wollstonecraft referiu 192 anos antes fazendo notar que quando alguém se refere a “pessoas” ou “humanos”, refere-se sempre a homens. As mulheres são vistas principalmente em relação aos homens, isto é, como companheiras sexuais e educadoras das crianças dos homens, etc.. Wollstonecraft afirmou que as mulheres devem ser vistas acima de tudo como pessoas de pleno direito, e só depois como donas de casa e esposas, etc. dos homens.

Wollstonecraft baseou a sua reivindicação ou pretensão no facto de as mulheres, tal como os homens, serem superiores aos animais, isto é, seres racionais. Considerou irrelevante que os homens fossem melhores a fazer certas coisas que as mulheres. Posto que as mulheres eram racionais, eram capazes de se governarem a si próprias. Os homens diferem nos seus talentos, mas isto não foi usado como um argumento contra os direitos políticos iguais para todos os homens.

          Wollstonecraft não concordava, é claro, que as mulheres fossem menos dotadas que os homens. O seu ponto de vista era que mesmo as pessoas que pensavam que as mulheres eram menos dotadas deviam concordar que elas deveriam ter direitos de seres humanos.

          Uma controvérsia importante em “A Vindication of the Rights of Woman” é que os homens usam o sistema educativo para ensinar as raparigas a desempenharem funções “de mulheres” que os homens lhes destinaram. Este é, de facto, um assunto corrente em toda a literatura feminista. Wollstonecraft exigiu igualdade de direitos entre homens e mulheres. Não disse muito sobre direitos políticos para as mulheres, apesar de haver indicação de que também pretendia escrever alguma coisa sobre este assunto. A obra The Subjection of Women, de John Stuart Mill, no século XIX, constituiu um trabalho importante, escrito sob influência da sua esposa, Harriet Taylor. As propostas de Mill eram semelhantes às de Wollstonecraft, mas iam mais além, dizendo que as mulheres deveriam votar. No que se referia ao emprego, também aqui ele diz que as mulheres deveriam ter liberdade de entrar em lugares da sua escolha (incluindo o casamento e a educação das crianças, se fosse essa a sua opção).

          O fundamental da filosofia de Mill, o Utilitarismo, é a ideia de escolher o melhor para o maior número de pessoas. De acordo com algumas autoridades sobre o trabalho de Mill, a noção de “igualdade”, que é a base geral dos escritas feministas, parece não transparecer dos princípios utilitaristas. Não é logicamente necessário que “igualdade” entre diferentes grupos ou indivíduos numa sociedade conduza inevitavelmente ao maior bem para o maior número de pessoas.

          Podemos argumentar, por exemplo, que algumas pessoas são melhores a produzirem riqueza que outras. Deste modo, se pretendermos maximizar a riqueza de uma sociedade, temos que estabelecer direitos e privilégios especiais para estas pessoas de modo a que elas possam atingir o nosso objectivo global de maximizar o bem estar material da população como um todo. Mill teve que juntar o princípio da igualdade em quase tudo antes de poder construir o seu argumento feminista. Apesar disso, tentou demonstrar como toda a gente beneficiaria da garantia da igualdade legal entre mulheres e homens, visto que a mesma traria um ganho na quantidade de felicidade para a espécie humana. Isto, porque de acordo com o trabalho anterior de Locke, a “servidão” das mulheres no casamento tornava muitas delas infelizes.

          Mill disse também que a espécie humana beneficiaria se o potencial da mulher fosse libertado, educado, e empregado no benefício de todos. E os casamentos seriam mais felizes se homens e mulheres fossem igualmente bem educados. Ele acreditava que a felicidade no casamento dependia dos esposos serem tão similares quanto possível.

          Em resposta à objecção de que as mulheres não têm as mesmas capacidades que os homens, Mill apoiou a posição Wollstonecraft de que isto parecia verdadeiro devido apenas ao modo como eram educadas. Se fossem educadas do mesmo modo que os homens, deveriam ter as mesmas capacidades. Defendeu também que como as mulheres eram já nitidamente capazes de executar uma grande variedade de tarefas, isto provava o seu direito a uma maior gama de empregos.

          No decorrer do século XIX, as feministas obtiveram maiores oportunidades de formação em escolas e universidades e admissão a uma gama mais alargada de profissões. As leis relacionadas com o divórcio, os direitos de propriedade das mulheres casadas, e controlo das crianças no casamento foi também modificado no sentido de favorecer as mulheres. Também no início do século XX, pelo menos, as mulheres ganharam privilégios em muitos países ocidentais. A primeira vitória para as feministas foi obtida em 1869, quando as mulheres tiveram direito de voto no estado americano de Wyoming, e o primeiro estado soberano a dar direito de voto às mulheres foi a Nova Zelândia, em 1893. O primeiro país europeu a emancipar as mulheres foi a Finlândia, em 1906.

          Após a emancipação das mulheres ser obtida em muitos países, a Segunda Guerra Mundial interveio. Isto causou possivelmente uma brecha na luta política feminista, possivelmente porque elas não queriam ser forçadas a servir como militares na linha da frente. Seria razoável esperar delas esta obrigação, visto que continuaram activas durante a guerra. E quando a guerra terminou, as pessoas precisaram de algum tempo para esquecer os homens que perderam a vida ou os membros na guerra. Coole (Women in Political Theory*, Sussex: Wheatsheaf Books, 1988, p. 234) caracterizou esta brecha como “uma ressurgencia de ideias e práticas antifeministas”.

          Mas seguramente, após um intervalo conveniente, uma mentalidade de paz envolveu as sociedades ocidentais de modo que a hipocrisia de algumas exigências de “igualdade” feministas não eram tão obviamente absurdas. É natural que a maioria das pessoas prefira ver a guerra como um pesadelo do qual é preciso acordar o mais rapidamente possível! E de uma perspectiva feminista insensível, os homens são sempre dispensáveis.

          Este período pós-guerra constitui uma autêntica segunda vaga de feminismo, um tempo em que parecia natural a sociedade focar-se mais no modo como o papel da mulher na família evitava que elas tivessem uma carreira com as exigências das dos homens. Esta atitude implica que o papel da esposa e mãe seja inferior ao do de assalariada no local de trabalho (ou escrava do salário, como há quem diga).

          Um livro na linha de pensamento feminista individualista tradicional é o The Feminine Mystique de Betty Friedan (1963), que seguiu de perto os calcanhares de Simone de Beauvoir (1953) em The Second Sex. O objectivo de Friedan era que a sociedade e as vidas das mulheres se organizassem para maximizar as capacidades das mulheres terem uma carreira e uma família. Ela pensava que na classe média americana, suburbana e branca, as donas de casa heterossexuais estavam sujeitas a sentirem-se entediadas e vazias, a não ser que tivessem um emprego fora de casa:

     A ciência não deverá deixar as donas de casa demasiado cansadas. Deve sim, preocupar-se em criar a ilusão de um sentido de realização de que as mulheres precisam (The Feminine Mystique, 4th Dell Printing, June 1964, p. 172).

Claro que isto não deverá ser problema em países e classes sociais onde abundam os electrodomésticos. Mas o que é mais interessante aqui é como Friedan parece ter como verdade que qualquer sentimento de realização por parte das donas de casa seja uma “ilusão”. Este é um ponto de vista muito subjectivo. Ironicamente, Friedan não sente, obviamente, que a realização de uma carreira fora de casa seja ilusória, quer para o homem quer para a mulher, como não acredita que uma mulher possa ser ao mesmo tempo feminina e completamente humana:

Escolhendo a feminilidade em vez de uma identidade completa mas dolorosa, nunca encontrando o âmago de si próprias que se obtém não da fantasia mas da compreensão da realidade, estas raparigas estão destinadas a sofrer de um aborrecido e difuso sentimento de inutilidade, inexistência, não envolvimento com o mundo que se pode chamar anónimo, ou falta de identidade, ou apenas sentir um problema que não tem nome (The Feminine Mystique, 4th Dell Printing, June 1964, p 172).

          Esta é a mesma confusão de papeis sexuais que tem afectado muitas feministas. Qualquer coisa que elas gerem para comparar a feminilidade com falta de identidade. O que isto demonstra realmente é a frustração que sentiram as escritoras feministas com a necessidade de se conformarem com modelos femininos, ao mesmo tempo que quiseram converter mais mulheres às suas personalidades mais masculinas. Quiseram tirar poder à mulher feminina e atractiva, cuja personalidade era centrada na cooperação com o homem, e criar um grupo de mulheres cuja personalidade era centrada na competição com os homens. Claramente as feministas lésbicas são apenas o extremo deste movimento lésbico encoberto. Desta perspectiva, o famoso “problema que não tem nome” de Friedan é actualmente o “problema” da heterossexualidade. Não se lhe pode dar um nome, porque o seu verdadeiro nome repelirá os convertidos. Sobre isto, alguns consideraram Friedan menos radical que as suas predecessoras:

          O livro The feminine Mystique, de Betty Friedan (1963), foi nalguns aspectos menos radical que os de Wollstonecraft, Taylor ou Mill. Apesar da ideia implícita de Friedan de que a mulher é a classe sexual sem poder, ela escreveu frequentemente como se as mulheres individuais pudessem, através de simples esforço, atingir o poder da classe sexual conhecida por “homem”. A sua tendência, pelo menos em The Feminine Mistique, foi esquecer que isto é mais fácil de dizer do que de fazer (Tong, Feminist Thought: a Comprehensive Introduction, Boulder, Colorado, Westview Press, 1989, p. 22).

          Tong criticou Friedan por não ter sido suficientemente exaustiva para ver as barreiras que se colocavam às mulheres para encontrarem carreira fora de casa. No entanto, várias anos mais tarde, Friedan remediou em parte esta omissão com um segundo livro, The Second Stage:

          Na primeira fase, o nosso objectivo foi a participação completa (do movimento das mulheres), ... Mas fomos desviadas do nosso sonho. E na nossa reacção contra a mística feminina, que definia as mulheres apenas em termos da sua relação com os homens como esposas, mães ou donas de casa, parecemos por vezes cair na mística feminista que negava este centro de realização feminina que é o amor, a procriação e a casa (Friedan, op. cit., 27).

Deste modo o principal do feminismo liberal/individualista incidiu na remoção de barreiras que evitavam que a mulher competisse com o homem numa mesma base salarial. Esta permaneceu a sua principal batalha, apesar de muitas destas barreiras deixarem de existir. Ironicamente, uma interpretação estrita do paradigma feminista liberal/individualista não e ajusta bem ao pensamento feminista actual: Se as mulheres continuam a não se sentir tão bem na vida pública como os homens, a responsabilidade é delas próprias. Não podemos dizer que alguma desigualdade existente entre homens e mulheres no local de trabalho possa ser atribuída a barreiras sexuais.

Esta questão é relevante em questões tais como o que é que acontece às mulheres quando regressam ao trabalho após uma interrupção de vários anos a criar os seus filhos. Algumas feministas defendem que elas devem regressar com o mesmo nível salarial e hierárquico que teriam se não tivessem interrompido. Eu considero esta posição feminista injusta por três razões:

Primeiro, o empregador garante o nível hierárquico (teoricamente) não na base da idade, mas na experiência e qualificação ganha. Uma pessoa que esteve ausente do local de trabalho não adquiriu o mesmo nível de experiência e qualificação. As feministas responde que ser mãe dá mais experiência, o que é um argumento absurdo. Isto depende de que emprego nos estamos a referir. Claro que ser mãe pode ser uma experiência relevante para uma carreira de ama, cozinheira, enfermeira ou outro que lide com crianças. No entanto, é irrelevante para uma carreira de escriturária, técnica de laboratório, polícia ou mineira!

          Segundo, o que fazer com pessoas que se ausente por outras razões? Seria absurdo e injusto garantir-lhe a mesma evolução e salário dos colegas que permaneceram no local de trabalho, mas seria igualmente absurdo e injusto negar-lhes a facilidade dada às mães que regressaram.

          Finalmente, as mulheres que têm crianças fazem-no (normalmente) voluntariamente, e conceber crianças é uma ocupação, por si só, bastante recompensadora. Não é como se alguém as forçasse. As feministas que acreditam que todos os homens estão envolvidos numa conspiração perversa e patriarcal para subjugar todas as mulheres são paranóicas.

          Certamente que alguns homens sentem satisfação em serem o sustento da família e serem esperados em casa pelas mulheres. Mas também é verdade que as mulheres não são as únicas a escolherem entre as crianças e as carreiras, e por outro lado aos homens estão vedados os prazeres da maternidade, isto é, as mulheres têm a faca e o queijo na mão, especialmente em caso de divórcio ou separação.

          Chegou o tempo em que as feministas individualistas atingiram a maioria dos seus objectivos nos países ocidentais. Um cínico pode acrescentar que o feminismo está agora a sofrer da necessidade de uma nova reivindicação para fazer. Certamente, uma vez que um movimento político atinge os seus objectivos, estes objectivos tornam-se parte do seu estatuto e o movimento tem assim liberdade de fazer uma introspecção para ver se está completamente satisfeito, ou se pensa que podem ser feitos posteriores melhoramentos.

          Geralmente, quando os activistas atingem os seus objectivos políticos tendem a descansar sobre os seus louros, havendo uma interrupção até que cresçam novas gerações que tomem estes objectivos como garantidos e pensem a fazer novas campanhas. No entanto, a recente institucionalização e financiamento do feminismo perpétuo através de departamentos de estudos sobre mulheres, ministérios de assuntos de mulheres e organizações de mulheres financiadas pelo estado e por privados estão a contrariar esta tendência.

Feminismo Socialista/Marxista

Discutirei também o feminismo socialista e marxista em parte porque ambos sofreram com a queda da influência do socialismo e do marxismo no mundo. Isto resultou do colapso da URSS e dos seus governos satélites na Europa do Leste. Deste modo já não tem importância que justifique um tratamento separado. Uma outra razão para os juntar é que algumas pessoas acham que o feminismo socialista sucedeu ao feminismo marxista. Finalmente, eles são muito semelhantes como Tong explica:

Enquanto o feminismo socialista acredita que género e classe desempenham um papel aproximadamente igual na explicação da opressão feminina, o feminismo marxista acredita que a classe considera melhor o estatuto e função das mulheres. No capitalismo, dizem elas, as mulheres da burguesia não estão sujeitas ao mesmo género de opressão que estão as mulheres do proletariado. O que é, então, diferente no feminismo marxista é que este convida todas as mulheres, quer sejam proletárias quer sejam burguesas, a compreender a opressão das mulheres não tanto como resultado de acções intencionais individuais, mas como produto das estruturas política, social, e económica associadas ao capitalismo (Tong: *Feminist Thought: a Comprehensive Introduction, Boulder, Colorado: Westview Press, 1989, p. 39).

Foi o feminismo socialista, juntamente com o feminismo radical, que esteve na vanguarda do feminismo de segunda vaga. O socialismo (incluindo o socialismo/comunismo marxista) foi um movimento muito diversificado. Com poucas excepções (tais como o escritor francês Proudhon), os socialistas têm favorecido o feminismo desde o início. Há possivelmente duas razões para isto: A primeira, o socialismo nasceu num estágio histórico posterior ao individualismo, quando o feminismo era já uma ideologia conhecida; a segunda, o socialismo era geralmente antagonista à família como instituição. Este facto era atractivo para aquelas feministas que queriam desligar as mulheres do seu papel tradicional na família.

Em muitas formas de socialismo, não havia direito da família possuir a sua própria propriedade e passá-la às gerações futuras. Assim não havia necessidade de criar as crianças em privado ou de ligar a mulher à casa. Ironicamente, no entanto, se de todo não havia propriedade privada (isto é, se não se tinha sequer direito ao seu corpo), então a violação, tal como a conhecemos, seria legalmente impossível:

Qualquer ideologia que rejeite todo o amor próprio não tem base para proibir crimes tais como a violação, o roubo, ou o assassínio. Na sua raiz, o altruísmo absoluto é crime: “Poderás negar a outro o uso do teu corpo para aliviar o seu desejo sexual? Que egoísta!” “Não queres permitir que outros tomem as tuas possessões para poderem ter um nível de vida aceitável? Que malvado!” “Não permitis que outros sacrifiquem a tua vida às suas boas causas? Que arrogante! (Van Mechelen, 1991, www.backlash.com/book/abort.html)

Assim crimes tais como a violação têm que ser definidos e entendidos em diferentes termos, se é que existem.

          Um dos trabalhos mais importantes do feminismo socialista tradicional é o The Second Sex de Simone Beauvoir. Influenciada por Jean-Paul Sartre, ela era uma existencialista tal com era marxista.  O Woman Estate de Juliet Mitchell (1971) foi outro trabalho de influência marxista. Ela concorda com o esforço das feministas radicais para encorajar as mulheres a analisarem a sua situação, mas pensa que os resultados deste processo de análise precisa da sobreposição da teoria marxista para fazer sentido.

          Uma das principais questões das feministas marxistas é o trabalho doméstico. Mantém que mesmo quando as mulheres têm empregos a tempo inteiro o seu trabalho doméstico mantém-se inalterado e subvalorisado: Se as mulheres não o fizerem livremente, alguém tem que ser pago para fazer as compras, cozinhar, limpar a casa, cuidar das crianças, etc.. Mas as sociedades capitalistas, afirmam elas, vêm as mulheres como meras consumidoras (usando o dinheiro que os maridos ganham no seu trabalho).

          Algumas feministas marxistas acreditam que as mulheres são oprimidas porque são vistas basicamente como parasitas, o trabalho de casa é fácil e de pouco valor. Apelaram assim à socialização e colectivização do trabalho doméstico. Pretendem que as pessoas vivam em comunidade, e assim criar crianças, cozinhar, e fazer trabalho doméstico é feito em grande parte por trabalhadores pagos. Este trabalho terá um valor monetário e o seu valor será oficialmente reconhecido, mesmo que continue a ser feito maioritariamente por mulheres.

          Outras marxistas feministas argumentam que o trabalho da mulher em casa, na sua casa própria, deverá ser remunerado. Esta remuneração deverá ser paga pelo governo. De acordo com Tong (1989), no entanto, há outro ponto de vista do feminismo marxista que considera que pagar às mulheres para fazerem o seu trabalho tem três desvantagens:

1.      Faz com que as mulheres fiquem mais isoladas nas suas casas. O seu trabalho será cada vez mais trivializado, quanto mais electrodomésticos estiverem disponíveis. Deverão ficar cada vez mais presas da vida suburbana.

2.      O relacionamento da mulher com o resto da sua família será colocada numa base comercial, quando muitos marxistas pretendem evitar aquilo que eles chamam de tendência capitalista para pagar tudo.

3.      Será incrementada a tradicional divisão sexual do trabalho, tornando mais provável que os homens vão trabalhar para fora de casa enquanto as mulhers ficam em casa.

Feminismo Existencialista

Como referido acima, Simone de Beauvoir foi existencialista e marxista. Isto leva  autores tais como Tong (1989) a classificar-se como fundamentalmente feminista existencialista, mais do feminista marxista.

Para entender completamente o feminismo existencialista, temos que entender o existencialismo, e está fora dos objectivos deste livro entrar em detalhes sobre a teoria existencialista. No entanto, a característica essencial do feminismo existencialista é que toma as categorias positivas e activas do existencialismo e aplica-as aos homens, e toma as categorias negativas e passivas do existencialismo a aplica-as às mulheres, colocando assim as mulheres em desvantagem e oprimidas.

Simone de Beauvoir, em o The Second Sex, deu provavelmente a chave teórica do feminismo do século XX, dando uma explicação existencialista da situação da mulher. De Beauvoir argumentou que a mulher é oprimida devido a ser “a outra”, porque é não-homem. O homem é o centro, livre, determinado a definir o sentido da sua existência, e a mulher é a Outra, o objecto cujo sentido lhe é determinado. Se a mulher se tornar o centro, o sujeito, ela pode, tal como o homem, transcender as definições, as etiquetas, e as essências que limitam a sua existência. Pode tornar-se naquilo que quiser (Tong, Deam (1992), Don’t blame me, daddy – False accusations of child, sexual abuse: A parent’s tragedy, Norfolk, Virginia: Hampton roads press, 6).

Feminismo cultural

O trabalho Woman in the Nineteenth Century de Margaret Fuller (1845) foi o primeiro do feminismo cultural. O feminismo cultural tenta persuadirnos de que o homem e a mulher não só são diferentes um do outro, mas os valores das mulheres são superiores aos dos homens e como tal devem suplantá-los. Por outras palavras é a supremacia feminina.

E sobre as mulheres mal comportadas? A maioria das feministas insiste que isto é o resultado da socialização, educação e crescimento em sociedades patriarcais. No entanto, pela mesma lógica, os aspectos supostos positivos dos valores femininos devem provir da mesma fonte. Isto significa que quer os aspectos positivos quer os negativos dos valores e comportamentos das mulheres podem desaparecer como resultado de uma engenharia social proposta pelas feministas culturais!

Enquanto as feministas liberais do século XIX se concentraram em questões políticas e legais, as feministas culturais examinaram instituições tais como religião, casamento, e lar. Olharam para a possibilidade de igualdade política e legal entre homens e mulheres para provocar as  mudanças na sociedade que acreditavam que poderiam ou deveriam resultar dessa igualdade. A ideia era de que o homem tem criado a desordem e a mulher poderá fazer melhor na gestão do mundo.

          Algumas feministas culturais acreditam no mito de um matriarcado primordial, quando o pacifismo, cooperação, aceitação não violenta de diferenças, e uma harmonização da vida pública estavam na ordem do dia. Isto estava em contraste com a destruição, a tirania, e guerra que se supõem características do patriarcado. Usando a palavra mito, não quero dizer que esta crença seja necessariamente incorrecta, apenas que isto é assunto não provado pela história, que é uma questão central para uma explicação da sociedade.

          Incapazes de encontrar “matriarcados” actualmente, muitas feministas refugiam-se na invenção de um paraíso matriarca idílico perdido nos mitos obscuros da pré-história. Apesar de não haver evidência aceitável para isto, ele tem sido aceite como facto dos Estudos sobre Mulheres (www.patriarchy.com/~sheaffer/patriarchy.html).

          O darwinismo social (Spencer, 1851) teve uma influência importante no feminismo cultural. Esta teoria aplicou a noção quase darwiniana da “sobrevivência do mais bem ajustado” às sociedades humanas, raças e pessoas individuais. Isto implicou que qualquer sociedade bem sucedida encontrou sucesso em virtude de ter características que a tornam mais ajustada que as sociedades rivais. As sociedades podem ajustar-se de vários modos, incluindo:

1.      Taxa de nascimentos;

2.      Taxa de mortalidade infantil;

3.      Longevidade;

4.      Produção de alimentos;

5.      População total;

6.      Área total de terra;

7.      Sucesso em guerras, etc.

O darwinismo social atribuiu alto valor à agressão masculina e competitividade. Alguns darwinistas sociais têm mesmo favorecido competições assassinas e guerra como mecanismos selectivos apropriados. No entanto, outra escola de darwinismo social menos publicitada pensa tal como Charlotte Gilman (1898), em Women and Economics, previu uma tendência diferente. Acreditavam que a humanidade estava envolta numa organização colectiva, que requeria mais ou menos competição, mais ou menos altruísmo ou egoísmo.

Feminismo psicoanalítico

O âmago do pensamento do feminismo psicoanalítico é qualquer coisa deste género:

O feminismo psicoanalítico encontra a causa da opressão feminina embebida no fundo da sua psique. ... O complexo de Oedipus, processo pelo qual o rapaz encontra o seu primeiro objecto de amor na mãe, para escapar à castração pelo seu pai. Como resultado de submissão do seu desejo ao superego (consciência social colectiva), o rapaz está completamente integrado na cultura. Juntamente com o seu pai ele cria regras sobre a natureza e sobre a mulher, tendo ambos semelhante poder irracional. Em contraste com o rapaz, a rapariga, que não tem pénis para perder, separa-se lentamente do seu objecto de amor, a mãe. Como resultado, a integração das raparigas na cultura é completa. A rapariga existe na periferia ou à margem da cultura, como aquela que não regulamenta mas é regulamentada, em grande parte porque ... teme o seu próprio poder (Tong: *Feminist Thought: a Comprehensive Introduction, Boulder, Colorado: Westview Press, 1989, p. 5).

A teoria psicoanalítica, no entanto, é altamente especulativa, e não suficientemente refutável (no meu ponto de vista)  para ser considerada uma teoria “científica”. Além disto, há aqui aspectos que eu considero implausíveis, particularmente a noção de que as mulheres estão menos integrados na cultura que os homens. As mulheres atingem a maturidade (social e sexual) antes dos homens, e adquirem normalmente uma mais completa interiorização das normas culturais, isto é, são “melhor comportadas” que os homens. A sociedade reflecte melhor os valores femininos que os valores masculinos e dirige os comportamentos masculinos no sentido de suportar e proteger as mulheres. A ideia de que a natureza se assemelha mais com a mulher do que com o homem é também altamente discutível.

Feminismo radical

As feministas radicais tendem a rejeitar o Estado em si mesmo, para não mencionar muitas instituições dentro dele, como uma estrutura patriarcal. Elas acreditam que não seja uma instituição neutra que serve de mediadora entre forças, nem um fórum dentro do qual as mulheres possam atingir os seus objectivos políticos (como as feministas liberais pensam).

O feminismo radical é um produto da Segunda Vaga e retomou o trabalho onde as facções anteriores o deixaram. Poucas das suas ideias foram implementadas ao contrário do feminismo individualista ou do feminismo socialista, no entanto:

Foi o feminismo radical que foi teoricamente o mais inovador, rejeitando definições tradicionais de políticas e teorias, enquanto condenava todas as teorias anteriores como patriarcais. Ao contrário da aproximação marxista, não se esforçou para incorporar mulheres na estrutura política preexistente, tentou em vez disso mudar toda a nossa percepção de sociedade, e reestruturá-la em termos de um conjunto radicalmente novo de conceitos centrados na mulher. O seu objectivo tem sido formar novas identidades políticas. Reclamar linguagem e cultura dos seus modelos masculinos e atingir poder político significativo, reafirmar natureza humana e desafiar os valores tradicionais (Coole, D. H., 1988: Women in Political Theory, p. 235).

A principal diferença entre o feminismo radical e outros tipos de feminismo é que o primeiro nega quaisquer diferenças psicológicas entre os sexos. De acordo com este ponto de vista a criação e a educação eram tidas como as causas dos diferentes comportamentos entre homens e mulheres. E a função de uma criação e educação diferente entre homens e mulheres era suposto ser o suporte da instituição de domínio masculino (patriarcado). As feministas radicais reclamam a abolição de todos os papeis de diferenciação sexual e a criação de uma sociedade androgínica.

Alguns feministas radicais ... perseguem a lógica dos seus analistas até ao ponto onde um movimento unido de mulheres de esquerda não conseguem compreender. No seu ponto de vista, as capacidades fisiológicas das mulheres para a reprodução são análogas à produção material da classe trabalhadora do marxismo tradicional. As mulheres, constituem uma classe, do mesmo modo que os trabalhadores. Como a classe trabalhadora se deve tornar uma classe por si própria para controlar a produção, então também as mulheres devem ter controlo sobre a sua reprodução para se tornarem livres. Uma extensão da analogia de classe deve conduzir à ideia de destruição da classe previamente dominante (o homem), ou pelo menos separar-se dela. As radicais exigem que o lesbianismo seja considerado não apenas uma questão de liberdade de escolha mas uma prática política essencial às feministas (Meehan, Elizabeth (1990): British Feminism from the 1960s to the 1980s, pp. 191-2).

Um dos trabalhas feministas mais conhecidos sobre sexualidade é The Female Eunuch de Germaine Greer (1971). Este livro é um dos clássicos do feminismo radical. É radical no sentido de que defendem o povo de um modo ao qual Betty Friedan nunca chegou. Colocando a instituição feminina em oposição à instituição masculina, como sugeriu Friedan, não ajudaria muito as mulheres, de acordo com Greer.

          Shulamith Firestone (1970), em The Dialect of Sex começou na categoria do feminismo socialista e do feminismo radical. Este livro é invulgarmente inteligente, claro, lúcido, e directo na sua aproximação aos padrões feministas. Isto não significa, no entanto, que o que afirma seja verdadeiro ou não distorcido. Ela provavelmente acabou em alguma instituição psiquiátrica o que não considero grande surpresa.

          Ela pensou que onde o feminismo radical e a biologia humana discordarem, tem que ser a biologia humana a decidir! Por outras palavras, ela estava suficientemente lúcida para ver alguns dos tipos de conflitos entre a teoria feminista radical e a realidade, que eu notei, mas que tal como muitos outros ideólogos, não se deteve a observar. Deste modo ela estava relutante em aceitar as consequências negativas das suas crenças, e as pressões sobre a sua sanidade mental deviam ter sido extremas. As feministas mais recentes solucionaram estes problemas mentindo sobre factos e perseguindo sociedades inteiras a acreditar em disparates completos (como vimos em capítulos anteriores). Quando sociedades inteiras acreditam em mentiras, chama-se a isto “ideologia”, “superstição” ou “religião” e os indivíduos mantém a sua sanidade mental porque todos em volta estão igualmente iludidos

          Firestone baseou a sua análise nas afirmações seguintes, em parte incontroversas, para que chamou a “família biológica”:

1. Que as mulheres através da história antes da possibilidade de planeamento familiar estavam constantemente sujeitas à sua biologia, menstruação, menopausa, e “doenças femininas”, partos dolorosos constantes, amamentar e cuidar de bebés, tudo actividades que as tornava dependentes dos homens .. para a sobrevivência física.

2. Que os bebés humanos precisam ainda de mais tempo para se criarem que os outros animais, sendo assim incapazes de ajudarem, e até, pelo menos durante um pequeno período, dependentes dos adultos para a sua sobrevivência.

3. Que uma interdependência básica mãe/criança têm existido, de alguma forma, em todas as sociedades do passado e do presente, e assim tem moldado a psicologia de todas as crianças e mulheres adultas.

4. Que as diferenças reprodutivas naturais entre os sexos conduziu directamente à primeira divisão do trabalho na origem das classes, assim como no aparecimento do paradigma de casta (discriminação baseada em características biológicas) (ibid, 8-9).

Há uma imprecisão significativa no fim deste quarto ponto. Os termos “na origem das classes” e “paradigma” parecem implicar que a divisão sexual do trabalho foi uma précondição para o aparecimento dos fenómenos de classe e casta. Firestone torna esta pretensão explícita (apesar de não dar qualquer evidência para isso) na sua definição de materialismo histórico:

Materialismo histórico é a visão do curso da história que procura a causa e o motor de todos os acontecimentos na dialéctica do sexo:  A divisão da sociedade em duas classes biológicas distintas para a reprodução, e a luta entre estas classes, nas mudanças dos modos de casamento, reprodução e educação de crianças no seio destas lutas, no relacionado desenvolvimento de outras classes através de diferenças físicas (castas), e na primeira divisão do trabalho (económica e cultural) baseada no sexo que se desenvolveu no sistema de classes.

Apesar do seu crédito, Firestone desprezou os esforços de algumas feministas para atribuir as causas destes factos a factores ambientais. Baseou-se também a quase universalidade desta classificação na espécie humana e outros animais. Se a causa está no ambiente, porquê tão poucas excepções?

          É neste ponto que ela deixa de ser desapaixonada ou objectiva e começa a vaguear numa lógica verdadeiramente obscura e pantanosa sobre “distorções psicossexuais” da personalidade humana que se deduzem dos quatro factores acima. Tem obviamente em mente, de forma implícita,  uma “normalidade psicossexual” feminista utópica. Considera-se claramente qualificada para fazer estes julgamentos arrebatadores. Assume simplesmente que quase todas as personalidades estão “distorcidas” e apenas ela e alguns amigos são “normais”.

          Tal como muitas feministas, ela considera esta vaga argumentação uma base suficiente para provar a “tirania (dos homens, claro) sobre as mulheres e as crianças”, que acredita ter uma base biológica. No entanto, pensa ela, a tecnologia moderna torna isto falível tornando possível derrubar a causa biológica da presente estrutura de poder sexual. Isto é aonde chega a sua utopia psicossexual. Argumenta que as mulheres devem tomar o controlo da “nova biologia populacional e de todas as instituições sociais de ajuda e educação de crianças”. O mais radical na sua utopia é que não deverá haver coisas tais como família ou comunidade, mas apenas indivíduos desligados com relações esporádicas:

     As diferenças genitais entre os seres humanos não devem ter implicações culturais. A reprodução das espécies por um dos sexos em benefício dos dois deveria ser (ou pelo menos existir como opção) substituída por reprodução artificial. As crianças deveriam nascer igualmente para ambos os sexos, ou independentemente dos dois ... a dependência das crianças em relação à mãe (ou vice versa) deveria dar lugar a uma pequena dependência  em relação a outros pequenos grupos ... A divisão do trabalho deveria terminar pela eliminação completa do trabalho (cibernética). (op. cit.)

Pessoas como Geoge Gilder e Camille Paglia, por seu lado, consideram o homem e a mulher essenciais um ao outro mesmo que as tecnologias futuras possam tornar o sexo irrelevante (ver Van Mechelen, www.backlash.com/book/clones.html, 1992), mas este não é um assunto que eu queira discutir aqui. Um ponto de vista mais tradicional das diferenças físicas entre homens e mulheres pode ser caracterizado do seguinte modo:

(1) As pessoas nascem com hormonas, anatomia, e cromossomas quer de homem quer de mulher; (2) As mulheres estão destinadas a ter um papel reprodutivo mais incómodo que os homens; (3) Os homens, apesar de iguais noutros aspectos,  devem exibir traços psicológicos “masculinos” (por exemplo, firmeza, agressividade, dureza, racionalidade ou capacidade de pensar logicamente, capacidade abstracta ou analítica de controlar as emoções), enquanto as mulheres devem, apesar de iguais noutros aspectos, exibir traços psicológicos “femininos” (por exemplo, gentileza, modéstia, humildade, disponibilidade para ajudar, empatia, compaixão, ternura, capacidade educativa, intuição, sensibilidade, generosidade); e (4) a sociedade deve preservar esta ordem natural, assegurando-se de que os seus homens permanecem “masculinos” e as suas mulheres “femininas” (Tong, Deam (1992): don’t blame me, daddy – False accusations of child, sexual abuse: A parent’s tragedy. Norfolk, Virginia: Hampton roads press)

          Não sou médico nem biólogo, mas geralmente aceita-se que no espectro das características biológicas e influências hormonais haja uma larga gama de “masculinidade” entre os homens, e uma larga gama de “feminilidade” entre as mulheres. Deste modo não há pessoas 100% homens nem 100% mulheres, mas graus de masculinidade e feminilidade. (ver Brain Sex: The Real Difference Between Men and Women, Moir & Jessel, 1993)

          É também possível alterar cirurgicamente a anatomia das pessoas juntamente com o seu equilíbrio hormonal. Germaine Greer, por exemplo, disse na televisão que assim que começou a tomar testosterona (hormona masculina) como tratamento para a menopausa começou a conduzir agressivamente o carro, como um homem! Assim, se podemos corrigir artificialmente as nossas características sexuais primárias e secundárias, temos justificação para o fazer? E em que circunstâncias? Tendo aptidão tecnológica, a questão mais importante levantada pelas feministas radicais é se a sociedade tem obrigação moral de a) manter a divisão sócio-biológica entre homens e mulheres, como aspecto positivo em si mesmo; b) usar todos os meios de engenharia social e biotecnológica à disposição para reduzir, ou mesmo eliminar as diferenças físicas e sociais entre homens e mulheres, tendo em conta que estas diferenças foram ultrapassadas pela biotecnologia e conduzem a desigualdades sociais; ou c) considerar que a diferenciação dos seus cidadãos em homens e mulheres não tem significância moral.

          Eu defendo a opção c). A raça humana tem controlado o seu ambiente a par com muitas preocupações com a sua destruição. Podemos chegar ao mesmo ponto com a nossa sociabilidade, anatomia, personalidade e fisiologia. Em áreas tão diversas como espécies animais e vegetais, culturas humanas e linguagens, a tendência do “politicamente correcto” é a preservação da diversidade no seu próprio interesse. No que respeita à nossa crescente capacidade para eliminar diferenças entre os sexos, pode ser politicamente correcto querer preservar este tipo de diversidade, tal como os outros tipos de diversidade referidos acima.

          Logo que os humanos tenham poder de mudar mais ou menos aspectos de si próprios, tal como o fazem no ambiente, o verdadeiro objectivo da existência humana é posto em causa. Uma coisa que não podemos criar cientificamente para nós próprios, é os valores que precisamos para criar as nossas acções, porque podemos acabar por cair nos valores tradicionais, por falta de algo melhor.

          Não podemos confiar apenas no feminismo para nos dar orientação moral na entrada deste tentador novo mundo. Uma das principais fraudes do feminismo, especialmente do feminismo radical, é a noção de que há qualquer coisa de intrinsecamente inferior no papel tradicional de dona de casa e mãe. Esta atitude deriva em parte do facto de não constituir emprego pago, mas não é racional assumir simplesmente que o trabalho assalariado é necessariamente mais realizador ou válido que o de dona de casa. Considere o valor colocado em férias mais longas ou semanas de trabalho mais curtas em certos países. Se é tão desejável permanecer menos tempo no trabalho, como pode ser desejável para as mulheres terem um emprego fora de casa. Parece uma contradição.

          Um dos trabalhas feministas mais influentes dos últimos tempos foi o Sexual politics de Kate Millet. A sua tese central é que podemos caracterizar o relacionamento entre os sexos em termos políticos. Esta aproximação aparentemente deriva originalmente de Wilhelm Reich, e está correcta. No entanto, será mais razoável ser mais equilibrado que as feministas sobre o relacionamento político actual que existe entre os sexos. Millet parte das seguintes assunções:

1. Os Estados Unidos (e países semelhantes) são “patriarcas”;

2. Isto é evidente tendo em conta o facto de que os políticos não principalmente homens;

3. Este poder dos homens sobre as mulheres aplica-se a todos os aspectos da sociedade, incluindo a família.

Millet não faz estas reivindicações de forma clara e explicita, mas é evidente que acredita nelas. O feminismo estabeleceu-se numa tal extensão que estas crenças são vistas popularmente como uma evidência através de todo o mundo ocidental. Além disso, Millet considera-as aplicáveis a todas as sociedades, e não apenas aos EUA.

          Os dois conceitos que tipificam o feminismo radical são as máximas teóricas “o pessoal é político” e o seu corolário prático, “elevação da consciência”.

          Dentro do grupo da elevação da consciência a experiência de cada pessoa, cada história de vida de uma mulher é matéria de interesse. Percebemos que ouvindo uma experiência individual podemos ter uma visão mais completa de como a sociedade se juntou. A política sexual dá um entendimento de como a sociedade trabalha quer a nível ideológico e a nível material e aprofunda o entendimento que a esquerda tem da experiência humana. Os movimentos de libertação das mulheres construíram uma análise da sociedade com base nos pormenores da experiência de vida individual. Isto alargou e desafiou o entendimento prévio da base social, económica e política da sociedade. (Luise Eichenbaum and Susie Orbach: Outside In. Inside Out. Women’s Psychology: A Feminist Psychoanalytic Account, Harmondsworth: Penguin, 1982, p. 12)

          Poderei comparar este processo à recolha de dados para provar uma hipótese científica, com a principal diferença de que a elevação da consciência construiu tendenciosidade que pode ser facilmente demonstrada fazendo a pergunta ”Em quantos grupos de elevação de consciência é que as feministas permitiram que os homens discutissem quanto foram oprimidos pelas mulheres durante a sua vida?” por outras palavras, a “elevação de consciência” é um sinónimo de “lavagem ao cérebro”, “instrução” ou “conversão”. A teoria feminista radical (política sexual, concebida pelas feministas) deu uma base para as feministas reinterpretarem as suas vidas do modo que as religiões fazem nas conversões.

Feminismo pós-moderno / Feminismo francês

Um cínico pode caracterizar o feminismo pós-moderno como um estágio ou tipo de feminismo que tem a virtude de estar dividido e aparentemente sem direcção:

As feministas pós-modernas preocupam-se porque o feminismo pretende ser uma teoria explicativa, ela ... corre o perigo de dar uma explicação do porquê da mulher ser oprimida, ou dez passos que todas as mulheres devem tomar para encontrarem a verdadeira libertação. (Tong: *Feminist Thought: a Comprehensive Introduction, Boulder, Colorado: Westview Press, 1989, p. 217)

O feminismo é incapaz de fazer isto. De facto, nenhuma feminista demonstrou objectivamente que as mulheres sejam (mais) oprimidas  (que os homens), e que por isso precisem de ser “libertadas”. Uma tal demonstração objectiva é uma condição prévia para a teoria explicativa que lhes falta. A natureza dividida do pós-modernismo é o resultado inevitável do facto de nenhuma das várias facções do feminismo ter sido capaz de construir uma teoria explicativa. Por seu turno, esta cisma criou um ambiente no qual o chamado “movimento reaccionário” tem emergido.

Estudos sobre mulheres

Os “estudos sobre mulheres” é uma matéria académica curiosa. Em parte porque é nova, mas principalmente porque tem mais em comum com treino teológico ou ideológico, que com outras disciplinas académicas em (digamos) ciências sociais.

Os estudos sobre mulheres, tal como o próprio feminismo, apresenta duas aproximações à questão de desigualdade. Uma aproximação, usando evidência antropológica, biológica, histórica e psicológica, pretende que as mulheres não são essencialmente diferentes dos homens, e por isso numa sociedade estruturada de modo diferente deverá ser possível fazer desaparecer divisões baseadas nas diferenças de sexo, deixando-nos com uma sociedade igualitária. A outra aproximação pretende que as mulheres são essencialmente diferentes dos homens e que esta desigualdade resulta de uma desvalorização das actividades e características femininas.... Os estudos sobre mulheres podem assim ser vistos como estando ligados a dois conceitos de igualdade, que podemos chamar “plenamente igual” ou “igual mas diferente”. Os tipos de problemas envolvidos na tentativa de conciliar as duas aproximações podem ser demonstradas por.... (Ruth, Issues in Feminism: A First Course in Women’s Studies*, Boston: Houghton Mifflin, 1980, p. 5)

É uma característica da ideologia de um movimento social tentar “conciliar” contradições na tentativa de maximizar a influência política do movimento. Disciplinas puramente académicas, por seu lado, tendem a focar-se em contradições na tentativa de chegar a uma conclusão de qual a teoria que está correcta.

Porque os estudos sobre mulheres não constituem verdadeiramente matéria académica, não podemos esperar que sejam examinadas objectivamente questões tais como a opressão dos homens na sociedade, a sua opressão pelas mulheres, e como são mais oprimidos que as mulheres. Os estudos sobre mulheres tomam a opressão das mulheres (pelos homens ou pela “sociedade”) como uma verdade própria que nenhuma pessoa tem o direito de pôr em questão. Mesmo os professores de estudos sobre mulheres admitem esta tendenciosidade, devido a uma acção política, mais do que rigor académico:

As ideias, métodos, currículos, e teorias dos estudos sobre mulheres exibem uma grande diversidade e resistem a uma definição fácil. Aqueles que trabalham actualmente em estudos sobre mulheres têm chamado a isto variedade de processos, campo de investigação, perspectiva crítica, centro de acção social, e/ou apoio dos movimentos femininos. É tudo isto e ainda mais. (ibid, p. 3).

Ruth está consciente da tendenciosidade dos estudos sobre mulheres. Ela responde que a tendenciosidade masculina (que chama de “masculino-ismo”, “masculismo” ou “androcentrismo”) tem sido sempre uma característica da sociedade. Pode bem ser, mas provar que muitos académicos masculinos têm sido tendenciosos, não prova que os estudos sobre mulheres não o sejam, nem isto justifica que o sejam.

O criticismo feminista está a expor a tendenciosidade masculina, não a criar uma feminina, como é acusado. Os estudos sobre mulheres procuram ser a profilaxia da tendenciosidade, não a causa. (ibid, 9).

Os activistas de direitos dos homens não são responsáveis por terem existido homens tendenciosos. Não precisamos de defender a tendenciosidade masculina, onde exista. Se as feministas expuserem alguma tendenciosidade masculina, isto não é mau. Um dos objectivos deste livro é revelar casos de tendenciosidade feminina. Aqui ficam alguns exemplos referidos neste livro:

1. A definição de poder político e identificação de quem o possui;

2. Atitudes contra a circuncisão feminina, ignorando ou apoiando a masculina;

3. Avaliação dos papeis femininos e masculinos no contexto da legislação sobre violação;

4. A disseminação e interpretação dos factos relativos a violência doméstica;

5. A disseminação da informação de vários tipos de abuso de crianças;

6. A avaliação dos sistema legal no tratamento dos homens e mulheres;

7. A avaliação dos assuntos de emprego que envolvem homens e mulheres;

8. A compilação e disseminação das estatísticas das Nações Unidas sobre igualdade sexual;

9. A escolha dos assuntos onde pretendem igualdade sexual;

10. A definição de igualdade sexual.

É também interessante notar o que Ruth (1980) vê como sendo o objectivo do seu campo:

Os estudos sobre mulheres procuram ... mudar nas mulheres o sentido de si próprias, a nossa própria imagem, o nosso sentido de dignidade e direitos, a nossa presença no mundo, mudar as aspirações das mulheres, baseado num crescente sentido de auto-confiança e amor próprio, permitir às mulheres criarem para si próprias novas opiniões nos nossos próprios objectivos assim como nas nossas obrigações e/ou contribuições para a sociedade modificar as relações entre mulheres e homens, criar verdadeira amizade e respeito entre os sexos em vez de “guerra entre os sexos dar a todas as pessoas, mulheres e homens, um sentido renovador de valor humano, restituir ao ser humano o amor pela beleza, simpatia, justiça, e qualidade de vida para reafirmar em sociedade a busca de harmonia, paz, e compaixão humana. (op. cit., 9).

Destes objectivos, devo caracterizar os dois primeiros como arrogantes e os outros ingénuos e hipócritas. O que os dois primeiros implicam é que as mulheres tenham um sentido incorrecto de si próprias e aspirações incorrectas. Os professores de estudos sobre mulheres são, ao que parece, uma raça superior de mulheres, que sozinhas conhecem o que as mulheres devem sentir sobre si próprias e o que devem ser as suas aspirações! É difícil pensar em alguém, que não seja um líder religioso, que tenha a arrogância de reclamar esta espécie de conhecimento superior. Os últimos dois objectivos são tão ingénuos e vagos, como absurdos, em qualquer contexto, excepto, talvez o de um culto religioso.

          Uma coisa é descobrir que um grupo é oprimido no sentido de que lhe é negado coisas que quer e são permitidas a outros grupos sociais. Outra coisa é ser um activista que quer alguma coisa para si próprio, que descobre que outros membros do grupo não têm os mesmos desejos, e que tenta então persuadi-los a querer as mesmas coisas que ele/ela quer.

          Onde adquiriram os professores dos estudos sobre mulheres estes valores “superiores” que querem que as mulheres adoptem? A resposta é que os adquiriram dos homens. As feministas são intelectualmente maria-rapazes. Interiorizaram de algum modo a ideia de que o que os rapazes e os homens tradicionalmente têm ou fazem, é de algum modo superior (em vez de ser diferente) ao que raparigas e mulheres tradicionalmente têm ou fazem. Não estou seguro que a origem desta ideia, seja outra a não ser mulheres frustradas da classe média. Estas feministas são psicologicamente transexuais que querem converter tantas mulheres quanto possível ao seu modo de pensar masculino de modo a que deixem (as feministas) de parecer uma minoria peculiar. Nos países ocidentais, tiveram um grande sucesso.

          Pretender que as feministas querem por fim à “guerra entre os sexos” é simplesmente hipócrita: As feministas começaram a guerra, e as únicas condições para aceitarem um cessar fogo é a vitória total para si próprias. De facto, não há qualquer possibilidade realista de uma sociedade alcançar um estado que possa satisfazer todas as feministas.

 

Prefácio à edição portuguesa

Prefácio

Introdução: O que é o feminismo?

1 – Narcisismo feminista e poder político   

2 – Circuncisão versus opção

3 – A educação mentirosa

4 – Mentiras, danadas mentiras e as estatísticas das Nações Unidas 

5 – Questões de emprego e a mentira de que “as mulheres podem fazer qualquer coisa”

6 – Acusações falsas e a mentira do abuso das crianças  

7 – As mentiras da violência doméstica; o homem num beco sem saída

8 – A Mentira do sistema judicial masculino

9 – Aborto e direito de optar

10 -- Violação: ter a faca e o queijo na mão

11 – Linguagem sexista: pensará satanás que é homem?

12 – A mentira da igualdade

13 – Endoutucação pelo complexo meios de comunicação social / universidade

14 – A fraude do domínio masculino

15 – Manifestações do feminismo

Notas

Bibliografia

Fontes na Internet

FAQ

Webmaster

Peter Douglas Zohrab

Latest Update

22 March 2016

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